terça-feira, 21 de outubro de 2008

Vinho e Fumaça

Quem não gosta de fazer uma fumaça acompanhado de uma boa bebida, que enaltece ainda mais o prazer de fumar um bom charuto? Mas podemos olhar por outro prisma, o de quem prefere escolher primeiro sua bebida para usar o charuto como acompanhamento. Independentemente do ponto de vista, é inegável que charuto e bebida combinam. Mas algumas delas vão te dar mais prazer do que outras. Resta apenas escolher a bebida e ser feliz!

Whisky, Mojito, Conhaque, Licores, Vinhos brancos, Vinhos tintos, Vinhos fortificados e outras bebidas. As opções são várias, mas hoje vamos falar um pouco mais a fundo sobre os vinhos. Mais precisamente os vinhos fortificados, aqueles com uma graduação alcoólica mais elevada e que, na minha opinião, combinam mais com um charuto.

Os vinhos que estamos acostumados a tomar, aqueles “de mesa” combinam com charuto? Sim, combinam, mas não conseguiremos degustá-lo da melhor forma e perderemos muitas coisas que eles nos revelam, como seus aromas mais profundos, seus toques no paladar e seu sabor. Isto porque o charuto, por ser mais intenso, acaba encobrindo algumas de nossas sensações com seu sabor e intensidade e de certa forma, acaba agindo conforme o princípio da compatibilização enogastronômica: Por ser, na maioria das vezes mais forte que o vinho comum, o charuto “mata” o vinho, pois não conseguimos tirar dele todo o potencial que ele tem a nos mostrar. Partindo deste princípio, o ideal é acompanharmos o “charuto nosso de cada dia” com bebidas mais alcoólicas e de sabor mais marcante. Então vamos começar a falar dos vinhos fortificados e dos vinhos mais “doces”:

Mas o que são os vinhos fortificados ? São aqueles que não são o produto apenas da fermentação das uvas. Eles são, em determinado momento de suas produções, fortificados com aguardentes vínicas, e acabam ficando mais alcoólicos e algumas vezes, mais doces. Selecionei 2 tipos de vinhos fortificados e um tipo de vinho que não é fortificado, mas acompanha bem um charuto por ser mais doce, que são os vinhos de sobremesa, entre eles, os franceses Sauternes. Vamos falar um pouquinho sobre cada um, para que você possa escolher o seu candidato: Vinho do Porto, Vinho Madeira e Sauternes,

Vamos começar então com o Vinho do Porto, o mais famoso dos fortificados, que tem sua graduação alcoólica entre 19 e 22%vol (Os vinhos de mesa têm entre 11% e 15% vol). Antigamente, os vinhos de Portugal, incluindo a região do Douro, aonde são feitos os Portos, não suportavam bem as longas viagens a que eram submetidos. Para não desperdiça-los, os produtores e os comerciantes decidiram acrescentar álcool vínico aos vinhos durante a fermentação,para que eles agüentassem a viagem, pois o álcool interrompe e fermentação, parando a ação das leveduras. Então perceberam que além de preservar, o vinho apresentava mais qualidade, tornando-o especial. Foi assim que surgiram estes vinhos fortificados, talvez os mais famosos do mundo.

Suas características únicas e marcantes vêm também de fatores como o solo, os diferentes tipos de uvas, sendo algumas delas únicas no mundo, e o forte clima continental com verões secos e invernos muito rigorosos.

As principais uvas cultivadas no Douro são a Touriga Francesa e a Touriga Nacional. Podemos destacar também a Tinta Barroca e a Tinta Roriz. Com estas uvas também se fazem excelentes vinhos de mesa, mas com características completamente diferentes.

Existem vários tipos de Porto, dependendo do seu envelhecimento: Primeiro, os jovens Ruby, Tawny e também o Porto Branco, cujo engarrafamento acontece três anos após a sua vinificação. Depois vêm os safrados, os Vintage Character, que envelhecem entre 4 e 5 anos em pipas de carvalho. Depois, os velhos vinhos envelhecidos em madeira, Old Tawnies, que passam entre 10 e 40 anos, tomando uma cor âmbar incrível. Seguindo, temos os Crusted Port, são resultado de uma mistura de safras diferentes. E por último os Portos excepcionais: Single Quinta Port - de um único vinhedo e envelhecidos por 2 anos e os Vintage Port, que são uma seleção dos melhores Portos da região e passam dois anos em madeira.

Quer também uma dica gastronômica de harmonização do seu charuto e seu Vinho do Porto? Então escolha um queijo de mofo azul (Tipo Roquefort ou Gorgonzola) ou uma sobremesa que leve chocolate. Tenho certeza que não vai se arrepender!

Vamos agora para mais um fortificado português: Vinho Madeira (Teor alcoólico mínimo de 17%vol), oriundo da ilha da Madeira, destino turístico mais antigo da Europa, ao norte do Atlântico, que tem um solo composto por materiais vulcânicos e altas montanhas, com quase dois mil metros de altitude. Este relevo facilita a instalação dos vinhedos em Terrazas (Terraços), como na maior parte da região. Além disto, a ilha ainda apresenta grandes plantações de cana de açúcar.

Este vinho ficou famoso, pois conta a história, que um Duque Britânico, prisioneiro na Torre de Londres e condenado a morte, resolveu se suicidar afogando-se em um tonel de vinho de Madeira.

E Assim como o Porto, o método de produção teve origem na intenção do homem de transportar o vinho a longas distâncias sem que haja depreciação.


A classificação dos vinhos da Madeira, assim como os Portos, varia de acordo com seus preços. A maioria é identificada pelos nomes da variedade de uva predominante. Pela lei, deve haver um mínimo de 85% desta uva no vinho em questão. Os vinhos mais importantes da Madeira são: Sercial - vinho seco; Verdelho - meio seco; Terrantez - vinho levemente doce; Boal - vinho semidoce; Malvasía: vinho doce ao estilo do Porto.

Podemos também classificá-los levando em conta a idade dos vinhos: Reserva, vinho com mínimo de cinco anos em madeira e garrafa. Colheita, vinho de um só vinhedo elaborado a partir de apenas uma variedade de uva e envelhecido um período mínimo de 20 anos em barricas de carvalho; Reserva Extra que é o vinho que tem algumas das uvas anteriormente citadas e permanece pelo menos 15 anos em carvalho e em garrafa, 10 anos no mínimo.

Então vamos a uma deliciosa harmonização: Vinhos Madeira Sercial como aperitivo ou os Madeira Verdelho, Boal ou Malvasia na sobremesa são uma ótima pedida.

Por último, vamos ao vinho que não é fortificado, mas que também apresenta uma doçura marcante e vai bem entre uma e outra baforada. É o Sauternes (Graduação alcoólica de 13% a 15% vol), que tem este nome na França mas pode ser encontrado em outros países também, com outros nomes. Mas certamente o mais famoso e mais nobre é o Francês. O processo de elaboração deste vinho é diferente do que já vimos no Porto e no Madeira. Nele não há a adição de aguardente vínico. Ele tem seu processo bem diferente dos demais, por algumas razões: Uma delas é a chamada “podridão nobre”. Na região de Sauternes, sudoeste da França, o início da manhã é nublado e o clima é úmido, enquanto que as tardes são ensolaradas e quentes. Este tipo de clima acaba favorecendo o desenvolvimento de micro-fungos. Este fungo provoca a porosidade da película das uvas, pelo que a água contida em cada bago se evapora facilmente aumentando assim a sua concentração natural em açúcar. O desenvolvimento deste fungo faz com que a colheita das uvas tenha que ser totalmente manual e em rodadas sucessivas – de 3 a 10 dependendo do viticultor - o que faz com que seja um vinho sempre muito caro. Por isto nota-se que os sauternes não são apenas "vindimas tardias", como os vinhos licorosos de outros países, que também podem atingir qualidades excelentes. Além disso tudo, o produtor interrompe a fermentação alcoólica para que os açúcares naturais permaneçam e tornem esse vinho distinto. Para merecer a denominação "sauternes" cada vinho terá que ser declarado e cada exploração tem que cumprir com certas práticas vitícolas. O Sauternes Château d'Yquem é considerado por muitos o melhor sauternes do mundo e de valor excessivamente alto e é o único classificado como Grand premier cru.

As únicas uvas autorizadas para fazer este vinho na França são a Semillon, Sauvignon e Muscadelle. Nos outros países que também produzem estes vinhos licorosos ou como alguns dizem, “de sobremesa” as regras não são tão rígidas assim. O que acontece nestas outras regiões é uma colheita da uva mais tardia que as demais, o que acaba “secando” a uva e assim ela apresentará um teor de açúcar mais elevado.

Para harmonizar o seu charuto, seu Sauternes ou algum outro vinho licoroso com comida, não é preciso ir muito longe. É só ver o nome que estes vinhos comumente recebem: Vinhos de Sobremesa!

Como vimos, temos 3 bons tipos vinhos, cada um com suas características, que podem igualmente acompanhar suas baforadas. Agora é escolher o seu e ser feliz. Muito feliz!

2 comentários:

JP disse...

Sem dúvida eu ficaria com os mauis doces, no caso com o Porto, mas sem despresar um bom licor, como o limoncello que eu estava tomando outro dia em casa qdo vc apareceu, e que estava maravilhoso.
JP

JP disse...

Sem dúvida eu ficaria com os mauis doces, no caso com o Porto, mas sem despresar um bom licor, como o limoncello que eu estava tomando outro dia em casa qdo vc apareceu, e que estava maravilhoso.
JP