sexta-feira, 17 de julho de 2009

Os Premiuns do Chile - Por Felipe Kaufmann

Conforme divulguei, nos últimos dias 3 e 4 de julho tivemos a melhor feira de vinhos premium do cone sul. Foi em Santiago e estava fantástica, como não podia deixar de ser.

No ano passado, senti uma certa pedofilia no ar alem de muitos egos inflados. Já este ano, o sentimento foi de madurez e pés no chão. Entusiastas, como nós, misturados ao pequeno e seleto grupo de connoiseurs e imprensa local circulavam livremente e sem a muvuca tradicional de uma feira brasileira, entre as mesas das melhores vinícolas chilenas que, despejavam com orgulho seus filhos prodígios nacidos em 2005, 2006, 2007 e 2008. Com a exceção da Almaviva, que estava fisicamente na feira porem sem vinho.

E porque alguém compra um espaço em uma feira de vinho e não o exibe? Presumo ser uma das vinícolas mais arrogantes do mundo, pois marcou hora (somente 2 horas em cada dia) para se provar o mais novo lançamento, a safra 2006. Seu second vin (Epu) estava presente todo o tempo, porém não está nada semelhante às boas safras de 2000 e 2001, ainda mais com o aumento de 120% (desde 2006) em seu preço (varejo) transparece mais uma vez, junto com a cara fechada, de “... o que a Almaviva esta fazendo aqui entre estes terceiro-mundistas...” Nada simpático; uma postura no mínimo duvidosa.

O destaque foi o aumento radical da qualidade de fruta da Viña Loma Larga. Não gosto de Malbec, porém os chilenos estão se superando. Aliás, se tivermos como benchmark os Argentinos, esses estão fritos, pois seus Malbecs de clima frio (Vale de Casablanca) estão primorosos, de cores estupendas (Ok, se Malbec não tiver cor bonita quem vai ter?) mas realmente fora do brilhante normal, um vinho grosso, e largo, com tanino que não enruga o final da língua nem a garganta. Contudo, entre todos que estavam à mostra (Cabernet Franc e Merlot tbm estão muito bem feitos) o bom mesmo ficou para o Syrah que tem uma profundidade e complexidade sem iguais, firme e seguro como a tração integral em um carro, confiável como um vestido preto em uma festa.

Voltando no tempo, a vinícola que primeiro começou a produzir qualidade no Chile, a veterana espanhola Miguel Torres, chega este ano mostrando poder e investindo em um segmento “premium, mas acessível” que está de surpreender qualquer aficionado. Refiro-me a linha “Cordillera” que são assamblages de enlouquecer. O 50% Carmenere 35% Merlot 15% Petit Verdot 2007 esta uma seda só. Uma mistura de vales (em seu rotulo traz somente a não-denominacao de origem “Vale Central”). Vinho bem feito de frutas fresquinhas e saudáveis, com a um toque elegante da madeira e um estilo próprio, sem ser metido a besta e sem pés em Bordeaux. Seus irmãos, 54%Carignan, 24%Merlot 22%Shiraz 2006 e o 56%Shiraz 24% Cabernet Sauvignon 15%Viogner também seguem a mesma linhagem, em especial este último, pois adoro a mistura de uvas brancas, principalmente a Viogner em vinhos tintos, acaba amansando as fortes Shiraz e C.Sauvignon.

A Haras de Pirque apresentou sua safra vigente do Elegance Cabernet Sauvignon, a de 2006 que definitivamente não agradou, junto com o seu primo Ítalo-Chileno Albis 2005 (joint venture mal resolvida) se mostraram desengonçados e pouco afinados; ainda mais se compararmos com o mesmo Elegance CS 2004 (tido como o melhor CS Chileno). Taninos extremamanete fortes e pouco prazeirosos. Jovens e alcoólicos de mais escondiam todo o poder do vale do Maipo onde nasceram. Outra vinícola que despejava um jardim de infância na taça era a Altair, o seu carro chefe de mesmo nome e o second vin, Sideral, ambos 2005 estão batendo seco na boca. Ainda brutos, porem sólidos, bom para se tomar a partir de 2012, e sem dúvida uma batalha perdida pelo “departamento enológico” que sempre implora ao “departamento financeiro”para mais tempo antes de sair ao mercado.

Surpresas para mim? Sim! Conversei com o Ed Flaherty, responsável pelo maravilhoso Zavala 2005 (sim vc leu certo, é o ultra premium da Viña Tarapaca com 90 pontos dados pelo R.Parker) e sim, esta vinícola não tem nenhuma tradição neste segmento, porem Ed realizou um trabalho que vale ser conferido. E melhor, é um americano, enólogo bem humilde, nada petulante. 56% Cabernet Sauvignon 25%Syrah 19%Merlot são um imenso prazer e com boa fruta fez este vinho ser o must da feira.

Por fim, o mais novo e queridinho dos vales para brancos, o de Limarí, apresentou seus resultados: a vinícola ligada a Concha Y Toro, Maycas del Limari trouxe os incríveis Chardonnay 2007 e Sauvignon Blanc 2008. Alias juntamente com o Sauvignon Blanc 1865 safra 2008 da San Pedro estão exatamente como eu gosto: com aquele azedinho doce, ácido na medida certa, e com uma citricidade que da água na boca (e não dor de dente). Frescos, com aspargos e grama cortada.

Espero que tenham aproveitado as novidades e nos vemos em breve!
Tim Tim.
Felipe

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