segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Mendoza - Mais que bons vinhos


Dizer que a vitivinicultura do novo mundo está caminhando a passos largos em termos de qualidade, é verdade. Dizer que os inúmeros produtores de países como Chile e Argentina, para ser mais próximo de nossa realidade, estão se superando e produzindo vinhos da mais alta qualidade, utilizando métodos modernos, de última geração, também é verdade. Até aí, nenhuma novidade para nós que gostamos muito de vinho e apreciamos esta “arte” de Bacco.
O que me impressionou nos 4 dias que estive em Mendoza no ano passado visitando vinícolas e conhecendo um pouco mais sobre esta linda região abençoada por Deus com lindas paisagens e um clima muito propício para o cultivo das uvas, foi a estrutura que eles têm montada para o enoturismo. As visitas foram todas muito profissionais e além de tudo, esclarecedoras. Os iniciantes e os que nunca ouviram falar sobre o processo de produção do vinho saem das vinícolas com muita informação sobre os processos, os vinhos, os terroirs e tudo que está em volta do vinho. Os que conhecem um pouco mais sobre este mundo, acabam aprendendo mais coisas. E principalmente que eles estão cada vez mais profissionais e procurando extrair de cada terroir, o seu melhor vinho.

Fui em 9 vinícolas, cada uma com uma característica. Pequena, média, grande, artesanal, mecanizada. Vi de tudo. E bebi de tudo. Desde visitas em grupo, como visitas privadas.

Basicamente, fomos a 2 regiões distintas: Maipú e Lujan de Cuyo. Ambas ficam há mais ou menos uns 30 minutos de carro do centro de Mendoza. A grande diferença entre elas: Lujan De Cuyo tem uma lindíssima vista para a Cordilheira do Andes, enquanto que Maipú não. Logo, não preciso nem falar qual é a mais bonita....!

Em Maipú fomos à grande e conhecida Família Zuccardi. Uma bodega moderna, que produz entre outros, ou famoso vinho Santa Julia. Mas os tops da vinícola, o Zuccardi “Z” e o “Q” são imperdíveis. Lá participamos de um curso básico de degustação, aonde tivemos a oportunidade de beber 5 diferentes vinhos, de diferentes linhas e conceitos. 1 branco e 4 tintos, sendo um de sobremesa. Bons vinhos, com estrutura e cada um com sua peculiaridade. O penúltimo, o “Q Tempranillo” é um vinho sensacional, com nariz e boca marcantes. Mas o que me chamou a atenção foi o de sobremesa, o MALAMADO. Seu nome é uma tradução do que ele é: significa “Malbec à maneira do Porto”. É um vinho de colheita tardia feito apenas com Malbec. 19,5° vol de álcool. Muito interessante, lembrando um Porto Ruby. Almoçamos muito bem no acolhedor restaurante da casa de hóspedes, aonde bebemos outros vinhos, todos eles agora da linha Santa Julia.
Depois de um ótimo almoço e bons vinhos, fomos conhecer a La Rural, bodega histórica e antiga da Família Rutini, um dos nomes mais conhecidos na Argentina. A visita é comum, em grupo e a degustação nada de especial. Mas o que vale a pena é conhecer o Museu do Vinho, que fica dentro da bodega, com inúmeros instrumentos antigos, alguns do século passado, usados na produção de vinho. Muito interessante!

Para completar o dia, seguindo a recomendação de nosso motorista, o simpático e prestativo Cláudio, fomos a uma vinícola muito pequena, artesanal, que usa tanques de cimento ao invés de aço inox, chamada Di Tomaso. Fomos recebidos pela esposa do senhor Di Tomaso, uma senhora simpática, que fala com muito paixão e orgulho sobre seus vinhos. Nenhum vinho especial, mas o interessante aqui fica por conta da diferença entre os conceitos de produção de vinho.

Dia seguinte, partimos para Lujan de Cuyo. Primeira parada: Catena Zapata. A visita em si, em grupo não tem nada de diferente das outras. A degustação, que passa por um Alamos Malbec, também não. Mas pode-se comprar outras degustações melhores. O show aqui fica por conta da arquitetura. Logo que se aponta na reta que leva à bodega, vês se um mar de videiras dos dois lados, a vinícola em frente e ao fundo a maravilhosa Cordilheira do Andes, altas e nevadas. Um visual incrível. A bodega em si é como uma pirâmide Maia. Linda! Dentro, é tudo muito funcional, moderno e de muito bom gosto. A sala “vip” de degustação é lá em baixo, dentro da sala de barricas que tem forma de “U”. Muito interessante.

Em seguida, almoço na Carlos Pulenta / Vistalba. A vinícola que produz os excelentes Vistalba Corte A, Vistalba Corte B e o bom Vistalba Corte C, tem um restaurante delicioso, o La Bourgogne. A visita em si foi muito rápida pois estávamos atrasados para irmos à última visita, mas o destaque aqui fica por conta da sala de degustação lá em baixo, que tem uma parede que é feito do próprio solo em que se encontra.

Para terminarmos o dia, fomos à Nieto Sentiner. Uma vinícola grande e conhecida, que produz vinhos de todas as faixas de preço e de gostos. Ao contrário das outras grandes que visitamos, eles não têm tanques de aço inox para fermentação e envelhecimento dos vinhos. São em tanques de cimento também, além das barricas de carvalho. Na degustação, o destaque para mim foi o Bonarda 2004, um vinho excelente e diferente. É uma uva que deu bem em solo argentino, mas que é muito usada para vinhos de corte. Foi o primeiro vinho varietal Bonarda que bebi. Vale a pena!

Nosso último dia de visitas nos reservava muitas boas surpresas! Começando com a bodega premiada, porém ainda pequena, Achaval Ferrer. Recebidos pela cordial e atenciosa Patrícia, conhecemos a bela vinícola, suas salas de fermentação e fizemos a degustação dentro da sala de barricas. Experimentamos 7 diferentes vinhos. Desde o mais básico Achaval Ferrer Malbec, até os seus Tops, os Fincas: Mirador, Altamira e Bella Vista. A diferença entre os 3 “Fincas” são as altitudes e as localizações de cada vinhedo, o que os torna muito diferentes um dos outros. Provamos diferentes safras, algumas diretamente das barricas, que ainda não estão prontos e nem foram ao mercado. Todos sensacionais. E para terminar, eu mesmo peguei uma pipeta e tirei de uma barrica, um experimento que eles estão fazendo atualmente com um vinho de sobremesa. Delicioso!!

Depois desta visita, que na nossa opinião foi a melhor de todas que fizemos, fomos almoçar na Ruca Malen. Uma vinícola média, de vinhos excelentes, principalmente os da linha “Kinien”. O visual do restaurante é incrível: Inteiro de vidro, sentamos numa mesa, aonde víamos o parreiral e ao fundo, novamente, os Andes nevados, com um céu azul límpido, sem nenhuma nuvem. Não dava pra saber o que era melhor: os vinhos, a comida ou a paisagem. O almoço tem 5 pratos. Casa etapa do almoço, um vinho diferente que combina com a comida em questão. Compatibilizações perfeitas que tornaram o almoço incrível. Depois, fizemos a visita à vinícola, também muito moderna e bonita.

Por último fomos à Viña Cobos, há alguns metros de onde estávamos. Não têm uma estrutura ainda para receber visitantes, pois acabaram de construir o local. Foi algo simples e rápido. De todas foi a única que não teria ido se soubesse como era. Mas fui atraído pelos ótimos vinhos que produzes, em especial o Cobos e a linha Bramare.

Ainda faltaram algumas ótimas vinícolas como Salentein, Ortega & Fournier, Carmelo Patti, Chandon, Terrazas e outras mais. Mas certamente se ficássemos mais tempo lá, não voltaríamos em boas condições alcoólicas ao Brasil.

É uma viagem aonde se come e é claro, se bebe muito bem. A terra do Malbec está definitivamente entre as mais bonitas e preparadas para o enoturismo.

Caso queiram contatos de pessoas nestas vinícolas, me falem!

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